quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O homem que cultiva a água

  
 Esse texto é muito bom para as aulas de educação ambiental ele é antigo mas sempre atual.

 
 O Homem que Cultiva a Água

Para mas informações sobre Marsha Hunzi, e seu
Instituto de Permacultura de Bahai, toca aca
de Brad Lancaster (traduzida para Marsha Hunzi)

Enquanto viajava pela parte sul da Africa neste
verão, (1995), ouvi falar de um homem que cultivava
a água. Parti a procura sem idéia clara do meu rumo.
Me encontrei num ônibus folclórico abarrotado
atravessando ruidosamente o interior do sul de
Zimbabwe a uns 30 km por hora. A paisagem era bela:
colinas suaves de capim amarelo em terra vermelha, com
moitas de arvores retorcidas, as vezes com formato de
guarda-chuva. Cochilei ate, nove horas depois,
chegarmos na região mais seca do Zimbabwe. Do topo da
colina de vegetação semidesértica avistamos uma
campina imensa de colinas onduladas cobertas de capim
seco e afloramentos de granito. Tinha poucas árvores.
Lembrei as campinas abertas da parte sudoeste de
Arizona (EUA). De fato, tudo era coroado por um céu

azul límpido como aqueles que se avista no sudoeste
árido dos Estados Unidos. O ônibus adentrou
vagarosamente a capina seca e parou no lugarejo rural
de Zvishavane. Era aqui a moradia do cultivador de
água. Enquanto o sol se pôr, procurei um lugar
apropriado para estender meu saco de dormir, e
adormeci.

Na manhã seguinte, peguei carona com a diretora do
CARE Internacional. Ela me levou até uma fila de casas
térreas. Uma destas era o escritório simples do
Projeto de Recursos de água de Zvishavane (Zvishavane
Water Resources Project (ZWRP). Lá, na varanda,
estava sentado o cultivador de água, lendo a Bíblia.

Na minha chegada ele se levantou com um sorriso
enorme e saudações cordiais. Aqui, finalmente, estava
Sr. Zephania Phiri Maseko. Descobrindo a distância
que percorri, ele desatou a rir maravilhosamente. Me
contou que ultimamente chegam visitantes de todos os
pontos do globo, quase diariamente. Mesmo assim, cada
um é uma surpresa inesperada.

No jipe atravessamos a solavancos as estradas de
terra erodidas rumo a sua propriedade, enquanto Sr.
Phiri falava, ria, e gesticulava, contando
infindáveis analogias e histórias poéticas. A melhor
história de todas foi a dele.

Em 1964 foi dispensado do seu emprego na ferrovia por
estar politicamente ativo contra o governo branco
rhodesiano. O governo alertou que nunca mais
trabalharia em nenhuma função.

Tendo que sustentar uma família de oito, Sr. Phiri
recorreu as duas coisas que tinha: uma propriedade
familiar de 3 hectares, e a Bíblia. Ele não usa a
Bíblia somente como guia espiritual -- usa como manual
de jardinagem. Ao ler a Gênese, viu que tudo que Adão
e Eva precisavam era suprido pelo jardim de Éden. "
Assim", pensou Mr. Phiri, "preciso criar meu próprio
Jardim de Éden|". Mas Sr. Phiri se deu conta que Adão
e Eva tinha os rios Tigres e Eufrates na sua região.
Não tinha nem sequer um riacho intermitente. "Então,"
pensou Sr. Phiri, "preciso também criar meus próprios
rios. " Ele fez ambos.

A sua propriedade se localiza nas encostas de uma
colina, frente ao norte-nordeste (lembrando que este é o hemisfério sul). No topo da colina se encontra
uma afloramento grande de granito do qual a água das
enxurradas escorre livremente. A precipitação anual
media é de 570 mm ( um pouco acima de 22 polegadas),
mas como Sr. Phiri, aponta, isso é uma média baseada
em extremos. Muitos anos são de seca, quando a terra
tem sorte se recebe 12 polegadas ( 270 mm) de chuva.

No começo era muito difícil que as culturas se
desenvolvessem, muito menos lucrar delas, devido aas
secas freqüentes e falta total de equipamento ou
capital para irrigar a partir do lençol freático. Ele
dedicou tempo observando o que acontecia quando de
fato chovia. Em pequenas depressões e no lado
superior das rochas e das plantas, a umidade do solo
durava mais do que em áreas onde a água escoava
livremente. Assim começou a auto-educação e o
trabalho de coleta de água de chuva . Ao longo de 30
anos Sr. Phiri criou um sistema sustentável que
preenche todas as suas necessidades em água
unicamente da chuva.

"Você tem que começar a captação no alto, e sarar as
voçorocas jovens antes das velhas e profundas rio
abaixo," diz Sr. Phiri. Começando no topo da
divisória de águas ele construiu muros de pedra seca
aleatoriamente mas nas linhas de contorno. Tendo
funções similares aos gabiões [cestas quadradas de
arame preenchidas de rochas utilizadas para captar 
água e sedimentos em grandes voçorocas, nota da
tradutora] , estes muros diminuem a velocidade do
fluxo de água de tempestades , esta atravessando
lentamente os espaços entre as pedras. Assim
amansa-se o fluxo de água saindo da redoma do
afloramento de granito , direcionando-a para
reservatórios permeáveis, que, como tudo na
propriedade, foram construídas com ferramentas de mão
e o suor de Sr. Phiri e suas duas esposas. O maior dos
dois reservatórios ele chama do seu centro de
imigração. "É aqui que dou as boas-vindas para a 
água em minha propriedade e depois a direciono para
onde residira no solo" , ele explica, rindo.

"O solo," explica, "é como uma lata. A lata precisa
segurar toda a água. Voçorocas e erosão são como
buracos na lata que permitem que a água e a matéria
orgânica escapem. Estes precisam ser tampados."

O " centro de imigração" de Sr. Phiri serve também de
medidor de chuva, porque sabe que se encher três
vezes durante uma estação, infiltrou chuva suficiente
ate o lençol freático para durar dois anos.

O reservatório menor direciona a água via uma manilha
para uma cisterna livre de ferrocimento que alimenta
o quintal durante as secas. Tem outra cisterna de
ferrocimento, sombreada por um pé de maracujá
luxuriante, que capta a água do telhado. Além destas
duas cisternas , todas as estruturas de captação de
água na propriedade visam infiltrar a água no solo o
mais rápido possível. Perto da casa há uma pia
externa onde as águas servidas escoam para uma
cisterna subterrânea , forrada de pedras secas, onde a
água rapidamente infiltra.

Do topo da divisória de águas ate o fundo existem
varias estruturas para a captação de água como
represas de retenção, gabioes, terraços, valas de
infiltração ( "swales"), e "covas de fruição".

O governo colocou valas de escoamento na região toda
muitos anos atrás, mas estas foram feitas fora das
linhas de contorno para acabar com a erosão em
laminas, levando a água das tempestades para um dreno
central. O problema de erosão resolveu-se, mas as
terras acabaram sendo roubadas da sua água. Assim,
Sr. Phiri cavou grandes "covas de fruição" 10X 6X 4
pés no fundo de todas as suas valas. Quando chove, a
água enche a primeira cova e o excedente enche o
seguinte , continuando assim ate os limites da
propriedade. Muito depois o fim da chuva, a água
continua nas covas, infiltranda no solo. Em volta das
covas capins grosseiros são cultivados para controle
de erosão, para cobertura das casas, e venda.

Muitas arvores de fruta vigorosas foram plantadas por
Sr. Phiri ao longo dessas valas para fornecer
alimentos, sombra, e quebra-ventos. São alimentadas
estritamente pelas chuvas e o lençol freático, que vai
se aproximando a superfície. Como Mr. Phiri explica:
"Cavo valas e covas de fruição para plantar a água
para que possa germinar em outro lugar."

" Ensinei o meu sistema as arvores,"continua. "Elas
entendem-no e a minha linguagem. As coloco aqui e
digo 'Olha, a água esta aqui. Vão a procura." Nenhuma
bacia nem divisória para segurar ou negar a água é
colocada em volta delas; as raízes são encorajadas a
se esticarem e encontrar a água.

Uma mistura diversa de culturas não-hibrídas como
abobora, milho, pimenta, beringela, taboa para
cestas, tomate, alface, espinafre, ervilha, alho,
feijão, maracujá, manga, goiaba, e mamão, juntamente
com arvores nativas como matobve, muchakata, munyii,
e mutamba sao plantadas entre as valas. Esta
diversidade oferece segurança alimentar porque na
falha de alguma cultura devido a seca, doença, ou
praga, outras sobreviverão. A utilização de culturas
não-hibrídas garante que Mr. Phiri possa colecionar,
selecionar, e utilizar as suas próprias sementes de
um ano para outro.

Ha uma abundancia de plantas fixadoras de nitrogênio.
Guandu é um exemplo, e serve também para forragem e
cobertura morta. Sr. Phiri percebeu que solos
fertilizados quimicamente não infiltram nem seguram
água muito bem. Como diz: "Você aplica o fertilizante
um ano, e não no ano seguinte, as plantas morrem.
Você aplica esterco e plantas fixadoras de nitrogênio
uma vez, e as plantas continuam a prosperar vários
anos em seguida. Solo fertilizado quimicamente é
amargo."

Os alimentos e as frutas que Mr. Phiri produz estão
longe de serem amargos. Ele tem sido generoso na sua
abundancia, dando mudas de arvores para quem
quisesse. Infelizmente, como ele mesmo aponta, a
maioria das arvores que ele doa morrem se não foram
implementadas as técnicas de coleta de água antes do
plantio. Ele propaga as arvores em sacos velhos de
arroz e grãos perto de um dos poços a céu aberto no
fundo da propriedade. Ele descreve os poços com outra
analogia: "A água é como o sangue -- é sempre
atraída à ferida. As voçorocas são feridas. O
sangue vai ate a ferida para saná-la. Se faz com
gabiões e valas de infiltração onde a voçorocas se
enche de solo fértil." Com este conhecimento Mr.
Phiri cavou três poços no fundo da sua propriedade
sabendo que a água coletada no seu terreno infiltraria
no solo e achar seu caminho ate as feridas no fundo
da propriedade.

O solo é sua bacia de captação. Nos tempos da seca,
os poços dos vizinhos secam (mesmo aqueles mais
profundos do que os dele) mesmo assim os seus poços
sempre contem água "dentro da qual posso mergulhar
meus dedos", porque ele repõe de longe mais água
dentro do seu solo.

Coma exceção de um poço que é forrado e munido de
uma bomba manual para água de uso domestico, os
outros são forrados com pedras secas. "Estes poços"
ele explica, "são aqueles do homem generoso. A água
vem e vai como quiser, porque , como você vê, no meu
terreno ela se encontra em todo lugar."

Em tempos de seca severa, Sr. Phiri tira água destes
poços para irrigar culturas anuais nos campos
vizinhos. Ele utiliza uma bomba conhecida como Shaduf
Egípcio, que não passa de uma bomba manual que utiliza
um pneu velho de trator para bombear a água.

Uma manivela abre e fecha a bexiga (o pneu) como um
acordeão, criando a sucção necessária. Um brejo
natural luxuriante se encontra abaixo dos poços no
ponto mais baixo da propriedade. Aqui Sr. Phiri
pratica aqüicultura em três reservatórios. Conforme
os dois menores vão secando, os peixes são coletados
ou realocados ao grande. É aqui onde Sr. Phiri
instalou uma plantação densa de bananeiras! Terras
secas de todo lado, mas na sua propriedade uma
floresta de bananeiras! Cana de açúcar, taboa, e
capins como capim elefante também são plantadas nos
embancamentos para segurar o solo. O gado se
beneficia desta vegetação densa, plantadas para filtra
a água antes que entre no reservatório. Esta forragem
nobre é reservada para as vacas prenhas.

No começo Sr. Phiri era obrigado a aparecer diante do
tribunal três vezes por violação das leis que proíbem
cultivação nos brejos. Estas eram leis dos tempos
coloniais. Finalmente, na terceira audiência, ele
conseguiu convencer o juiz a visitar a sua
propriedade. Ao ver o trabalho feito, o juiz arquivou
a denuncia na hora.

Dentro do solo desta propriedade jazem os rios Tigre
e Euphrates; os reservatórios são onde vem a
superfície. O ciclo do Jardim de Éden de Sr. .Phiri,
que começa a ser percebido depois de 30 anos de
obscuridão e as vezes desprezo, continua a crescer.
Das ultimas três décadas ele diz: "Claro, é um
processo lento, mas é a VIDA. Lentamente implemente
os projetos, e conforme a sua vida comece a rimar com
a Natureza, logo outras vidas começam a rimar com a
sua." Ele, em conjunto com a ONG que criou, O Projeto
Zvishavane de Recursos Hídricos "( Zvishane Water
Resources Project), espalham suas técnicas. Ele
influenciou CARE Internacional na sua região ao ponto
de, em vez de distribuir alimentos, eles agora
implementam os seus métodos para que as pessoas
possam plantar seus próprios alimentos.

Ele tem visitado escolas onde os professores estavam
em greve devido à falta de água e as condições
difíceis em salas de aula empoeiradas e sacudidas
pelos ventos. Ele ensinou os professores e estudantes
como colher a água da chuva, e juntos transformaram
as escolas em jardins luxuriantes, eliminando o
motivo de greve. "Lembre que as crianças são as nossas
flores, "diz Sr. Phiri, "de-lhes água que crescerão e
florescerão."

O projeto de Mr. Phiri trabalha localmente ( uma
grande razão pelo sucesso) . Mesmo assim o Projeto
sempre precisa de fundos. Se você gostaria de ajudar,
escreva Sr. Zephania Phiri Maseko, ZWRP, PO Box 118,
Zvishavane, Zimbabwe.

Nenhum comentário:

Postar um comentário